Quando chegar a hora de voar – Sob um primeiro olhar

hora de voar 1 Quando chegar a hora de voar – Sob um primeiro olhar Quando chegar o momento de professora e aluna se separarem. Separação é, boa parte das vezes, um aspecto negativo quando tratamos de pessoas. Ela nos remete à separação de casais, de pais e filhos, à saudade e à insegurança da nova vida. O medo e outras circunstâncias nos fazem enxergar o aspecto negativo da separação e, por isso, ela nem sempre é natural e saudável. Como e quando isso acontecerá, vai depender de cada um. Cada um tem seu momento de alçar voo. Pode ser quando a bailarina começar a ensaiar grandes passos sozinha; pode ser quando mestre e aluno já não compartilharem mais das mesmas idéias; pode ser quando o mestre já não mais estiver suprindo as necessidades do aluno e agora ele precise de outro e por aí vai… O aluno precisa ir e o mestre precisa deixar ir. A liberdade é nosso direito e depois que tudo acontecer, veremos que ela vem para o bem. É preciso compreender que ser uma professora significa doar-se, orientar e ensinar ao outro o conhecimento anteriormente adquirido. Nada mais. Sem criar expectativas em relação aos alunos. Sem criar de nenhuma forma vínculos que comprometam a saúde dessa relação. Cada um tem o seu tempo, seus limites e seu caminho. Sem essa compreensão e leveza, podem ocorrer alguns equívocos sobre as obrigações e deveres de uma com a outra. Ambas podem começar a alimentar sentimentos que futuramente comprometerão o momento da separação, como alimentar o sentimento de posse ou de dívida. Sabemos que, algumas vezes, é ensinado às alunas muito mais do que dançar. Algumas circunstâncias exigem uma orientação muito além da técnica. Podem acontecer situações fora do controle que exigirão da professora compreensão, ensinamento e acolhimento. Porém, se irreversivelmente o respeito chegar ao fim nessa relação, somente então, cabe o abandono. Toda essa dedicação e entrega não pode criar a sensação de que uma tem direitos sobre a outra, afinal ser professor é doar-se, lembram? O reconhecimento também não está em contrato. Ele pode vir ou não, mas não é obrigatório e não deve ser exigido. Ah! o reconhecimento… Menina dos olhos de muitos professores e também de muitas alunas. Mas temos que lembrar que ele apenas nos massageará o ego. Ver o resultado do trabalho prosperar é o que realmente traz felicidade e isso só será possível com a separação. Não podemos confundir respeito, admiração e gratidão com dívida. O ciclo de ensino somente se fecha quando o aluno conseguir ir em frente. Sozinho. Quando o aluno conseguir olhar para o precipício, sentir-se capaz e jogar-se para seu primeiro voo. Viver na dependência do mestre pode fazê-lo perder o tempo desse voo. O pavor do desconhecido e o medo de errar devem ser substituídos pela coragem. Todos temos o direito de errar quantas vezes forem necessárias, então não tem por que não seguir a diante. Apenas sozinho, ele encontrará o caminho, conhecerá suas vontades e conseguirá desenvolver o que absorveu no aprendizado. O aluno carregado com toda bagagem que acumulou, deve ir em frente e dar continuidade ao legado do mestre. Para brilhar, é preciso sair da sombra… E então, devemos lembrar que a separação pode não ser uma despedida… Que a vida é feita de ciclos, o mundo dá voltas, plantamos o que colhemos, depois da noite vem sempre um novo amanhecer. Diz a sabedoria popular que tudo o que ensinamos nos retorna em dobro.

Nesrine Bellydance

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Title: Quando chegar a hora de voar – Sob um primeiro olhar
Date Posted: junho 4, 2014
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Category: Textos e publicações
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4 thoughts on “Quando chegar a hora de voar – Sob um primeiro olhar

  1. Gravatar of Samar Al Laylali (Bianca) who made comment number 61 Samar Al Laylali (Bianca) says:

    Oi Nesrine,
    Admiro muito sua sensibilidade para falar de assuntos delicados e importantes. Especialmente nessa semana, por razões pessoais, eu estava desejando muito que alguém escrevesse sobre a relação mestre-aprendiz. E eu estava desejando muito que essa pessoa fosse você, pois já acompanho seu blog e gosto do modo como escreve.
    Fiquei admirada com a coincidência (ou, numa visão junguiana, com a “sincronia”) por você ter postado esse texto nesse momento que eu tanto desejava.
    Fica então o meu muito obrigada por você compartilhar conosco suas palavras. Espero que você continue libertando seus pensamentos por meio da escrita… pois eles agregam e nos fazem refletir, sem imposições, respeitando a liberdade de cada um…

    • Gravatar of Nesrine who made comment number 63 Nesrine says:

      🙂 Obrigada pelos comentários!
      Esse retorno é muito importante para mim <3
      Fico feliz que gostem e que a gente esteja falando sobre as mesmas coisas e passando pelos mesmos momentos.
      Beijo grande!

  2. Gravatar of Elisabete Placido who made comment number 62 Elisabete Placido says:

    Que lindo!
    Estou vivendo esse momento descrito no texto e suas palavras me tocaram o meu coração profundamente.
    Vou guardá-lo com muito carinho e que deus te abençoe
    Obrigada!

  3. Gravatar of Sahar who made comment number 64 Sahar says:

    Nes, to amando seus textos. Vc consegue exteriorizar o que está interno e que muitas vezes não deciframos. Vc decifra!!!bjo

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