Uma Matrioshka e um novo olhar…
Uma Matrioshka e um novo olhar…
Certa vez, ganhei uma bonequinha Matrioshka de uma amiga que voltava da Rússia.
E minha surpresa foi que, ao abri-la, havia outra bonequinha menor dentro da primeira, e outra menor dentro da segunda e mais outra… no total eram seis bonequinhas diminuindo, umas dentro das outras, até se tornarem uma só.
Para mim foi como se na primeira, que é a maior de todas, coubessem várias outras mulheres, ou idades ou experiências dentro dela.
Pensei então que cada uma bonequinha poderia significar uma fase da vida de uma mesma mulher. A primeira e velhice, a segunda a idade madura… até a última que seria a criança.
Dizem que temos uma criança dentro de nós.
Então, pode ser que tenhamos também a adolescente, a mulher inexperiente, a mulher madura… a mulher velha seria apenas uma delas…
Enfim, olhando para uma conhecida de muitos anos que hoje desfruta de sua velhice, percebi que a mulher velha é apenas a que está na superfície. .. essa é a que vemos de cara, mas se olharmos novamente conseguimos ver que lá dentro habita também uma criança, uma jovem adolescente sonhadora, uma mulher recém casada…
Percebi que falar com uma senhora como se ela tivesse aquela idade durante toda a sua vida seria um erro. Seria apenas enxergar a primeira bonequinha e ignorar a existência de todas as outras.
Percebi também que é muito interessante quando reconheço na senhora a bonequinha que é igual a minha desse momento.
De repente tudo muda e aquela senhora é também da minha idade.
Desejos, conflitos, anseios, escolhas, frustrações… tudo que parecia tão distante agora se parece.
Foi como olhar e enxergar melhor, como se não fosse mais superficial.
O título de senhora hoje para mim é apenas um ato tradicional de educação. Quando olho, posso enxergar alguém assim como eu.
Posso pedir conselhos, mas também posso falar das coisas, da vida, do trabalho, confissões, trocar figurinhas…
E talvez, até brincar de me reconhecer nela, enxergar como eu fui ou como serei um dia.
Espero acumular muitas bonequinhas ainda. Guardá-las com todo cuidado. E, um dia, feliz, chegar e conhecer a última… bem grande…
Nesrine B.]]>
Como sempre leio e me emociono , tu consegues colocar os sentimentos com uma naturalidade e é justamente o que sinto,mas ñ sei colocar em palavras! Parabéns! Sou tua fã quando danças e agora tb como escritora.
Lindo o seu texto! Eu que já tenho em mim muitas bonequinhas, inclusive as mais maduras, descobri que a dança do ventre faz com que muitas dessas bonequinhas aflorem: a aluna, aprendiz, desajeitada em muitos movimentos, mas feliz, muito feliz.