O meu movimento
Meu movimento surge da inquietação que tenho sob o som…
Sinto a percussão vibrando no meu peito, e na calmaria, sinto a força da minha respiração.
Danço no meu ritmo por que é esse ritmo que me faz sentir que a vida está passando por mim.
Reviso a estética dos movimentos para tentar prever o que o outro está enxergando. Para que a mensagem seja passada de maneira clara e compreensível.
Mantenho meu corpo hábil e alinhado de forma que ele responda aos meus pedidos e alcance minhas idéias. Para que ele possa ser meu instrumento. Apenas isso.
Disponho da sabedoria de usar as ferramentas que tenho, respeitando os meus limites que, com a dedicação, estão cada vez mais longe. Mas ainda existem..
Tenho o cuidado de me flexionar à necessidade do outro, prestar atenção no espaço, criar momentos que transportam, trazer ao ambiente o que falta e desfocar o que não deve ser visto.
Em mim a dança é um dialeto e uma forma de bem estar.
A beleza é o tom em que eu falo.
Beleza pelo que é belo.
No momento da dança, tudo passa por mim na velocidade do som. Num caos compreensível.
Eu danço o que eu sinto, o que eu sou e o que eu quero dizer.
E se me falta alguma coisa, por exemplo quando me deparo com algo além dos meus limites, eu o substituo e sigo em frente em busca da arte.
Caminho sobre a estrada que me conduz à ela.
Produzo arte. Sou fruto dela.
Porém, o resultado final nem sempre está dentro do modelo de produto comercializável.
Não tenho como objetivo focar minhas energias em construir algo altamente comercializável. Meu objetivo ainda é dançar o que eu acredito. Meu trabalho é fruto do que eu estudo e assimilo, do que eu sinto e do que eu percebo.
A busca pela arte é uma força muito maior em mim do que a busca pela estética física como forma de aprimoramento da dança, por exemplo.
E tenho a disposição de pagar o preço por isso.
Além dessa busca, ainda sou tomada pelo princípio de ser mais humana comigo mesma, com as outras pessoas e com o ambiente. Então, isso se estende por mim em todos os aspectos: quando respeito e vivo cada faze da minha vida, cada fase do meu trabalho, cada mudança no meu físico.
Me dedico a vivenciar minhas experiências de vida e deixá-las me preencher por completo, para que eu tenha assunto a dizer enquanto eu danço.
Para representar a beleza, tenho outros recursos que não me impedem de ter oscilações de peso e silhueta. Não me impedem nem de envelhecer.
Essa é apenas a minha verdade.
Acredito que o impulso para mudanças, de algo em nossa dança ou carreira, deva partir do nosso interior e não do exterior sob forma de exigência ou pressão do mercado.
Se alguma coisa não é verdade para você e você tem outras verdades, então talvez, não haja motivos para a mudança.
Desde que você valide isso.
Na dança do ventre, assim como em outras modalidades,a beleza estética é importante, mas a arte é fundamental.
A pressão do mercado pode sugerir que seja muito importante para a bailarina seguir um modelo. Mas a decisão é pessoal, pois o próprio mercado pode rejeitá-la justamente por segui-lo.
Pode ser que, um dia, eu sinta essa necessidade dentro de mim de buscar por outro corpo. Lapidá-lo.
Mas enquanto isso não acontece, continuo andando pelo caminho que escolhi.
Dignamente.
Nesrine Bellydance
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