Bem vindas à era das sensações!
Olá! Como você está se sentindo?
Eu me sinto bem. E isso é o que agora importa!
Bem vindos à era das sensações!
Certezas, concretudes, realidade, responsabilidade com o futuro… tudo irrelevante.
O importante é ter-se a sensação de que está tudo bem.
Em nosso “mundo da dança do ventre” nunca vendeu-se e comprou-se tantas sensações.
São centenas de workshops coreografados, cursos e fórmulas prontas que fazem as aspirantes a bailarina terem a nítida sensação, equivocada, de que estão dançando.
Produções cinematográficas compactas (e pagáveis) que fazem quaisquer mulher bem produzida sentir-se uma profissional da dança do ventre. Pagou, levou.
Distribuição (remunerada) de títulos, certificados, prêmios para substituir o know-how das velhas bailarinas. E por aí vai…
Existe até quem pague para fingir que está sendo bem paga para estar num lugar renomado.
Não é à toa que, hoje, as aspirantes a bailarina investem muito, mas muito mais em sua imagem do que em seus estudos.
Os valores que antes eram destinados à sua formação agora são investidos em figurinos luxuosos (ou que apenas aparentam ser).
Contratantes querem saber se seu figurino tem cristais, se você é uma “boa amiga” e se sua rede social é bem movimentada. Isso basta.
E assim vamos produzindo um mercado aparentemente consistente.
O “aparentemente” anda bastando.
O básico egípcio foi substituído pelo deslocamento com shime na meia ponta com a perna direita frente e trás.
E a admiração das boas bailarinas pela admiração das bailarinas amiguinhas e fofas <3
Fazer passos difíceis e ter a sensação de que está dançando bem, hoje, substitui o dançar bem.
Mas a era das sensações não é um “privilégio” nosso.
Na verdade, nosso mundinho está só refletindo…
O Brasil todo nunca teve tantas boas sensações!
A sensação de que estamos terminando com a pobreza,
A de que estamos com poder de compra,
A de que estamos politizados…
Cidadãos comemoram suas últimas aquisições, que até garantiram sua ascensão a uma classe social superior, mas ignoram as dívidas infinitas que contraíram para pagá-las.
Sim, porque aumento de crédito nada mais é do que a deliciosa sensação de aumento de poder de compra.
Mas, como é apenas uma sensação… a dívida está lá para ser paga com o mesmo salário de sempre e com a mesma situação econômica.
Televisores, durante o último mundial, puderam ser adquiridos com o pagamento estendido em até 48 meses (com juros, claro!)!
O preço do leite sobe toda semana, o salário é fora da faixa do mercado, ninguém tem dinheiro para excessos, mas o objeto dos sonhos, que agora pode ser dividido a perder de vista, dá para pagar!
O aumento de crédito nos deu a sensação de que nosso poder de compras aumentou.
E a maioria saboreia essa sensação com tanto desejo que prefere continuar a acreditar na melhora da situação financeira. A ilusão já basta!
E o brasileiro nunca esteve tão endividado.
Os mais pobres hoje recebem um valor mensal.
Que, é fato, os garante o mínimo do mínimo de condições. Mas que não os garante um emprego de verdade, nem dignidade, nem independência econômica.
E para muitos, o mínimo do mínimo de condição anda bastando.
A ilusão novamente está sendo o suficiente.
Essa medida no curto prazo deu comida aos que tinham fome. Ponto para ela.
Mas no longo prazo poderá ter resultados catastróficos como o poder de controle de quem é o seu detentor. Pois, aqueles que passavam fome não querem, com toda razão, voltar a passar por isso. E têm que engolir a sua condição de dependência e até a concordar com ela.
Nos últimos meses assistimos à inúmeras manifestações que encheram nossos corações de esperanças de uma população politizada.
A esperança nos bastou.
A sensação de politização também.
“Protestamos como nunca! Votamos como sempre.” (frase de um autor sábio e desconhecido).
O dinheiro que sobra, para quem tem sobra, é destinado a comprar roupas, aparelhos eletrônicos, objetos da moda para nos darmos a sensação de que nossas vidas são interessantes.
Depois postamos tudo em nossas redes sociais, que já não têm mais tantos amigos devido à falta de tolerância nas últimas eleições.
Antibióticos devem ser rigorosamente administrados de acordo com a orientação médica, mas assim que os sintomas passam, param-se de tomá-los. A sensação de que a doença já não mais existe é o suficiente.
Casamos e temos filhos para termos a sensação de que temos uma família. Mas não nos preocupamos em educá-los. E nem sequer respeitá-los.
Hoje, amigos são aquelas pessoas que dão ibope.
Ah! e que são bonzinhos.
Porque os que nos contrariam são imbecis.
Os que ofendem diretamente são preconceituosos (e são! e devem ser punidos.), mas aqueles que articulam o preconceito para beneficiar-se dele não. Têm muitos até recebendo título de herói!
A maioria massacrante das pessoas possui celular para ter a sensação de estarem conectadas às outras pessoas, mas não dão atenção a quem está logo ao lado… nem ouvidos…
E seguimos incentivando o aparecimento de novas fábricas de sensações.
Na política, nas relações, nas ruas, no trabalho, na dança, em casa, no íntimo…
Sim, porque elas só existem porque têm consumidores assíduos para elas.
Qual outra alternativa?
Enxergar os problemas de olhos bem abertos; uma administração que vise a independência econômica das pessoas e não o rebanho e uma educação que não só ensine a ler, mas também a interpretar o texto… entre outras coisas…
E para o nosso “mundo da dança do ventre” desejo o desenvolvimento de bailarinas com a capacidade de percorrer as exceções das regras, de criticar e se posicionar ativamente, de dançar suas próprias escolhas, de evoluir nosso mercado e não de cometerem os mesmos erros de sempre…
Bons profissionais que alimentem um bom mercado e um bom mercado que incentive bons profissionais.
Agradeço a atenção!
Fique tranquilo! Não tenho a pretensão de que concorde comigo!
Sim, sou do grupo dos pessimistas.
Essa é minha opinião.
Pessoal e intransferível.]]>